A correspondente do Estado em Washington, Cláudia
Trevisan, foi detida na Universidade de Yale, uma das mais respeitadas
dos Estados Unidos, ao aguardar a saída do presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, de uma conferência no
local. A jornalista foi algemada e por quase cinco horas mantida
incomunicável dentro de um carro policial e em uma cela do Departamento
de Polícia da universidade. Sua liberação ocorreu apenas depois de sua
autuação por "transgressão criminosa".
O caso foi acompanhado pelo Itamaraty, em Brasília, e especialmente
pela embaixada brasileira em Washington e pelo consulado em Hartford,
Connecticut, que colocou à disposição da jornalista seu apoio jurídico. O
ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, estava em
Nova York e foi informado por assessores sobre o incidente. Claudia,
pouco antes de ser presa, pudera informar um diplomata da embaixada
brasileira por telefone.
Claudia Trevisan é correspondente do Estado em Washington desde o
final de agosto. Nos últimos cinco anos, atuara em Pequim, na China,
onde foi também diretora da Associação de Correspondentes Estrangeiros.
Por outros meios de comunicação brasileiros, havia trabalhado como
correspondente em Buenos Aires e em Pequim.
"Eu não invadi nenhum lugar", declarou ela, ao mostrar-se indignada
pela acusação policial e por sua prisão."Passei cinco anos na China,
viajei pela Coreia do Norte e por Miamar e não me aconteceu nada
remotamente parecido com o que passei na Universidade de Yale",
completou ontem, ainda abalada.
A jornalista havia sido destacada para cobrir a visita do ministro
Joaquim Barbosa à Universidade de Yale, onde participaria do Seminário
Constitucionalismo Global 2013. Ela trocara e-mails com a assessora de
imprensa da Escola de Direito da universidade, Janet Conroy, que lhe
informara ser o evento fechado à imprensa. Claudia aquiesceu, mas disse
que, por dever de ofício, esperaria pelo ministro do lado de fora do
Woolsey Hall, o auditório onde se daria o seminário.
Ela também havia conversado previamente, por telefone celular, com o
próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa disse
que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então,
informou o presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de
fora do prédio.
O prédio é percorrido constantemente por estudantes e funcionários da
universidade e por turistas. Suas portas estavam abertas às 14h30 de
quinta-feira. Claudia ingressou e, na tentativa de confirmar se o evento
se daria ali, dirigiu-se ao policial DeJesus, em guarda no primeiro
andar. Ele pediu para Claudia acompanhá-lo. No piso térreo do prédio, a
pedido do policial, Claudia forneceu seu endereço em Washington,
telefone e passaporte. Ao alcançarem a calçada, do lado de fora do
prédio, DeJesus recusou-se a devolver seu documento.
"Nós sabemos quem você é. Você é uma repórter, temos sua foto. Você
foi avisada muitas vezes que não poderia vir aqui", disse o policial,
segundo relato de Claudia Trevisan, para em seguida agregar que ela
seria presa.
O processo de prisão teve uma sequência não usual nos EUA. Os
argumentos de Claudia não foram considerados pelo policial. Na calçada,
ele a algemou com as mãos nas costas e a prendeu dentro do carro
policial sem a prévia leitura dos seus direitos. Ela foi mantida ali por
uma hora, até que um funcionário do gabinete do reitor da Escola de
Direito o autorizou a conduzi-la à delegacia da universidade, em outro
carro, apropriado para o transporte de criminosos.
Na delegacia, Claudia foi revistada e somente teve garantido seu
direito a um telefonema depois de quase quatro horas de prisão, às
21h20. O chefe de polícia, Ronnell A. Higgins, registrou a acusação de
"transgressão criminosa". Ela deverá se apresentar no próximo dia 4
diante de um juiz de New Haven.
O Estado manifestou hoje sua indignação à Escola de
Direito da Universidade de Yale pela prisão arbitrária de sua
correspondente em Washington. Solicitou também respostas a cinco
perguntas pontuais sobre o episódio e seu acesso às imagens de câmeras
de segurança do prédio de Woolsey Hall, para comprovar o fato de Claudia
ter obedecido as instruções do policial. A resposta dessa instituição
está sendo aguardada.
Estadão
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